O azul não está na bandeira italiana. E, ainda assim, ele é uma das cores mais ligadas à identidade do país. Isso acontece porque o Azzurro não nasceu como símbolo nacional, e sim como símbolo anterior à nação.

Ele era a cor da Casa de Saboia, a dinastia que liderou o processo de unificação italiana no século XIX. Antes de existir uma Itália moderna, já existia esse azul nos brasões, nas faixas cerimoniais, nos detalhes de estado. Quando a unificação aconteceu, o azul permaneceu, não como marca governamental, mas como um código cultural que atravessou o tempo.

Ao longo dos séculos, a imagem da Madonna nas igrejas também ajudou a consolidar o azul na vida cotidiana italiana. Não se trata de um azul marítimo ou turístico, mas de um tom mais profundo, usado em afrescos e pinturas renascentistas para marcar presença sagrada. Essa associação se espalhou, sem pressa e sem intenção direta, pela cultura visual do país.

Quando o futebol se tornou o espaço onde a identidade nacional se manifesta de forma coletiva, a escolha do uniforme da seleção não foi objeto de disputa. Em 1911, adotou-se o Azzurro que já existia na memória cultural. Daí vem o apelido Gli Azzurri, que se mantém até hoje, mesmo que a bandeira diga outra coisa. A cor passou a representar uma continuidade histórica mais silenciosa, mais antiga, mais enraizada do que qualquer slogan ou campanha.

É curioso observar que essa cor reaparece em diferentes momentos culturais sem precisar ser declarada tendência. Ela não se apresenta como novidade, porque nunca se retirou. Ela simplesmente atravessa contextos: religiões, monarquias, esporte, cotidiano. É uma cor que não foi inventada para se destaca, ela apenas permaneceu.

No vestuário, isso se traduz de forma simples. O azul profundo funciona porque tem história. Ele carrega referências que já foram absorvidas ao longo de gerações, mesmo quando ninguém está pensando nelas conscientemente. É familiar sem ser óbvio. É clássico sem ser antigo. Ele pertence a um lugar que existe antes da moda e depois dela.

Quando escolhemos esse azul, não escolhemos apenas um tom. Escolhemos uma continuidade cultural.