Turim, Itália. No primeiro fim de semana de julho, o Parco Dora transformou-se num caldeirão pulsante de techno, onde 120 mil pessoas de 150 países dançaram sob um sol escaldante que beirou os 40 °C. Era mais do que música, era resistência, suor e total entrega ao ritmo acelerado do futuro.

O festival, que começou em 2009 como um modesto tributo ao movimento futurista italiano e ganhou força quando se mudou, em 2012, para esse parque pós-industrial, se consolidou como reduto do techno autêntico. O cenário, com vigas de ferro, chaminés e grafites, remonta à história fabril de Turim, e a luz do sol refletindo no aço alaranjado parecia um cenário cinematográfico.

O calor fazia o metal estalar, mas também criava um paradoxo perfeito para o que rolava ali. Dançava-se até a exaustão num ritual coletivo, sem espaço para selfies ou poses. Celulares ficavam guardados, e o que importava era sentir. Carl Cox entregou um live hipnótico, Peggy Gou conduziu sorrisos a cada batida, Charlotte de Witte e Solomun empurraram a pista para a madrugada com a energia de quem ignora o cansaço.

Entre os momentos mais comentados estava a presença brasileira. Mochakk, direto de Sorocaba, trouxe seu techno com a garra característica, e o aguardado back-to-back de Vintage Culture com Beltran virou catarse coletiva. O encontro incendiou o palco e levou a brasilidade ao Parco Dora, provando que a música eletrônica feita no Brasil já é peça-chave no circuito global.

Turim, com sua alma industrial e seu ar de vanguarda, é o cenário perfeito para esse tipo de celebração. A cidade não tem o glamour óbvio de Milão nem a ostentação de Roma. É crua, sofisticada e real, exatamente como o Kappa FuturFestival. Ao fim dos três dias, quando as últimas batidas silenciaram sob o crepúsculo, ficou a sensação de que aquilo foi mais do que um festival. Foi um estado de espírito.